Lover.

Eu tinha quinze anos e era gordinha quando entrei no científico e de lindo mesmo só tinha o meu longo cabelo, lindo embora fosse lavado só com sabonete. Como adolescente nunca dei muita bola para a gozação com meu peso, ficava na minha. Se me incomodavam muito, eu batia.

Como meu pai ganhava pouco e minha mãe era pão dura, para poder ter roupas para sair eu dava aulas particulares, lia livros que minhas alunas não liam, fazia os seus trabalhos e como elas eram do Colégio Sion, li um monte de livros de vida de santos. Tambem aprendi a costurar, a partir do momento que um dos garotos me perguntou, sobre o vestido que eu usava sempre nos bailinhos, se eu tirava para tomar banho e isso doeu. O meu colégio era estadual, tinha uniforme e eu só precisava de roupa para ir aos bailinhos.

Eu era a segunda da classe porque a primeira colava, tirava nota maior e adorei quando o professor pegou ela colando.

Tinha tambem uma colega Ana, que se achava maravilhosa e ficou muito espantada quando o Centro Academico, no meio do ano, me convidou, e não a ela, para participar do concurso de rainha do cientifico. Nesse meio tempo eu estava sendo paquerada por um rapaz do terceiro ano, o cara mais bonito do colegio.

Nessa época tinhamos bailes a tarde, nos fim de semana e era uma delicia! Dancei a valsa da rainha com o bonitão do terceiro colegial e me senti linda, num vestido de tule rosa, bem rodado, com uma linda anágua de renda, o sapato era um chanel rosa e eu era uma estrela de Hollywood.

A felicidade de dançar a valsa Lover foi tão intensa que até hoje consigo sentir o braço dele na minha cintura, sua mão na minha, seu cheiro bom. Com essa música voltam as borboletas no estômago e aquela sensação de estar nas nuvens, embora isso tudo tenha se passado há muito, muito tempo.

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